O ator Cauã Reymond volta a Milão, onde começou a carreira de modelo, para apresentar o guarda-roupa clássico do homem urbano
São 12h44 de um escaldante dia de verão em Milão. A cidade que Cauã Reymond conheceu adolescente agora o recebe como um homem-feito, ator bem-sucedido, dono de si e no auge da carreira. Ou seja, completamente diferente do menino de 18 anos que chegava ali para trabalhar como modelo, em 1998. “Eu era um duro, não tinha dinheiro para nada”, relembra o ator carioca. Na falta das ondas do Rio de Janeiro (as quais até hoje ele costuma surfar), sua diversão era ir ao Parque Sempione, no centro da cidade, com outros modelos brasileiros e curtir o dolce far niente. “Por mais que eu fosse jovem, aquela experiência me fez amadurecer e ter os meus sonhos”, afirma.
O contraste entre a cena de principiante e o seu momento atual não poderia ser maior. Cauã faz parte do grupo de atores mais disputados da TV Globo hoje, e teve, até aqui, um ano intenso de trabalhos. Foi protagonista em duas minisséries, O Caçador eAmores Roubados, participou de dois filmes – Alemão e Tim Maia (previsto para estrear nos cinemas no fim deste mês), além de ter conseguido um inesperado sucesso no exterior com o personagem Jorginho, de Avenida Brasil, graças à exportação da novela para emissoras de 125 países. De quebra, ainda enfileirou cenas de beijo técnico com Patricia Pillar, Cleo Pires e Isis Valverde, o que está longe de ser desprezível. Fato que, inevitavelmente, nos remete à sua vida pessoal. Há exatamente um ano, Cauã enfrentava o fim de seu casamento com Grazi Massafera, seguido de uma avalanche de especulações sobre uma possível relação com, justamente, Isis Valverde. Sua decisão foi manter-se firme e jamais discutir o assunto em público. Em nenhum momento de nossa conversa ele menciona o nome da ex-mulher. No entanto, no mês passado, havia boatos de uma reconciliação. Não por acaso, seu assessor é o mesmo de Chico Buarque e Marisa Monte – dois artistas conhecidos por uma conduta monástica quando o assunto é vida privada.
E o ano de 2015 não dá sinais de trégua ao ator. Sua agenda já está inteiramente comprometida com mais trabalhos, como os dois filmes dos quais também será coprodutor, Língua Seca e Azuis. Some a eles a adaptação para a TV do livro Dois Irmãos, de Milton Hatoum, na qual viverá um dos irmãos do título, e ainda um personagem na próxima novela de João Emanuel Carneiro.
Ninguém nem lembra muito bem como ou quando aconteceu, mas, de repente, Cauã dá a impressão de sempre ter estado ali, presente, em nossa sala de estar. Ou em Milão. O que o traz à cidade novamente, durante suas férias, é um convite de Giorgio Armani para assistir ao desfile da Emporio Armani, a linha mais jovem e fashion do estilista. Desde o ano passado, o ator passou a ser um “friend of the house”, sem contrato, mas com estreito relacionamento de amizade com a marca. O encontro com o sr. Armani fez com que ele conhecesse os escritórios da empresa, um deles um belo prédio minimalista projetado pelo arquiteto japonês Tadao Ando.
“É muito comum você ver marcas nas quais o diretor criativo vai mudando. Armani ainda está à frente de suas linhas depois de tantos anos”, diz o ator. Durante o breve encontro entre os dois, o cortejo parece ser recíproco. Armani dá um leve tapinha no rosto do ator e diz: “Che bello!”.
Antes de chegar a Milão, o ator estava surfando nas Ilhas Maldivas, onde passou as férias com o pai. Entre uma pausa e outra na sessão de fotos ele contava das ondas que pegou e das noites em que ficava acordado até tarde com o sr. José Marques para acompanhar os primeiros jogos da Copa do Mundo. São momentos simples, como esses, que ele diz valorizar a cada vez mais desde que a filha, Sofia, nasceu, há dois anos. Com a palavra, Cauã Reymond.
Você está sempre de camiseta e jeans. É sempre assim que você se veste?
Sou bem básico. Tenho uma pilha de camisetas brancas, pretas e cinza. Sempre fui muito medroso. Vestia calça rasgada na época em que todo mundo usava calça rasgada. A minha era provavelmente a menos rasgada! Mas eu adoro quando tenho de vestir um terno. Acho gostoso, não sofro.
Sou bem básico. Tenho uma pilha de camisetas brancas, pretas e cinza. Sempre fui muito medroso. Vestia calça rasgada na época em que todo mundo usava calça rasgada. A minha era provavelmente a menos rasgada! Mas eu adoro quando tenho de vestir um terno. Acho gostoso, não sofro.
O homem está mudando o modo de se vestir?
O mundo mudou. A maneira como você se veste não quer, necessariamente, dizer que pertença a uma tribo. Os gays tendem a lançar moda e, anos depois, os outros homens se vestem igual. Na maioria das vezes, são os mais elegantes.
O mundo mudou. A maneira como você se veste não quer, necessariamente, dizer que pertença a uma tribo. Os gays tendem a lançar moda e, anos depois, os outros homens se vestem igual. Na maioria das vezes, são os mais elegantes.
Você vê diferença entre São Paulo e Rio em relação à aparência?
Em São Paulo as pessoas arriscam mais, existe uma vanguarda. No Rio elas se vestem bem melhor do que há dez anos. Ainda é muito chinelo, bermuda e camiseta, a cultura da praia. O carioca é mais careta quando sai à noite.
O que é um gentleman para você?
Ter educação. Meu avô era um gentleman. Ele se chamava Carlos Marques de Souza e era chamado de “prefeito do Leblon” no quarteirão onde morava. Era bem dândi, elegante, tinha um bigodão, vestia ternos de linho branco e abria a porta do carro para as mulheres.
Incomoda interpretar galãs hoje em dia?
Só fazer o galã e ficar restrito a isso pode incomodar. Mas não me sinto assim. Faço escolhas por filmes de baixo orçamento que talvez não alcancem tanto o grande público. É algo bobo ficar lutando contra o estigma de galã. A dramaturgia precisa do mocinho. Fazer só isso me incomodaria, mas nem sempre depende só de mim. Você é a peça de um quebra-cabeça. É um jogo de muitas pessoas.
Só fazer o galã e ficar restrito a isso pode incomodar. Mas não me sinto assim. Faço escolhas por filmes de baixo orçamento que talvez não alcancem tanto o grande público. É algo bobo ficar lutando contra o estigma de galã. A dramaturgia precisa do mocinho. Fazer só isso me incomodaria, mas nem sempre depende só de mim. Você é a peça de um quebra-cabeça. É um jogo de muitas pessoas.
Está preparado para contracenar com grandes atrizes internacionais?
Acho que é mais fácil trabalhar com alguém que é muito bom. Para mim, é mais fácil ver nos olhos que a pessoa está ali no momento, pensando como personagem. A atuação tem hora de câmera. É como hora de voo: você vai ficando cada mais vez relaxado em frente à câmera.
Como você enxerga seu futuro?
Me vejo produzindo filmes nos quais eu não esteja, obrigatoriamente, atuando; sinto desejo de dirigir também. Mas estou muito confortável no meu momento atual.
O que vai mudar no país com as eleições?
Não sou a favor de nenhum partido, mas acho perigoso quando alguém está há muito tempo no poder. Não sou a favor de que o PT continue, por mais que, por muitos anos, eu tenha sido a favor. Acho que fizeram coisas bem bacanas para muita gente. Só acho que realmente estamos num momento de mudanças.
Não sou a favor de nenhum partido, mas acho perigoso quando alguém está há muito tempo no poder. Não sou a favor de que o PT continue, por mais que, por muitos anos, eu tenha sido a favor. Acho que fizeram coisas bem bacanas para muita gente. Só acho que realmente estamos num momento de mudanças.
Que mudanças precisam ser feitas?
Sou contra votações veladas (no Congresso). A gente não sabe quem está votando no quê. Não votamos neles para nos representarem? Precisamos saber que decisões estão tomando.
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