domingo, 8 de janeiro de 2012

GDF identifica 214 pontos mal iluminados no DF propícios a violência urbana

A insegurança na Vila Madureira, condomínio de Ceilândia, fez a feirante Martha Alexandre Queiroz Cunha, 35 anos, adquirir 10 luminárias e fixá-las nas paredes das casas localizadas no começo da rua onde mora, cheia de lotes vazios e de matagal. Para clarear o local, ela gastou cerca de R$ 100 e não se arrependeu do investimento. “Eu não pago energia, mas, se não fosse pelas lâmpadas que eu coloquei, todo mundo estaria no escuro e a gente se sentiria ainda mais inseguro”, disse.

Locais mal iluminados são apontados pela Secretaria de Segurança Pública do DF como os favoritos de bandidos para a prática de crimes no Distrito Federal. Onde não há claridade são cada vez mais comuns assaltos, estupros, desmanche de carros e funcionamento de laboratórios de drogas. Além disso, esses locais servem como abrigo para bocas de fumo e até execuções. O governo mapeou 214 pontos que ganharão iluminação pública nos próximos dois anos, por meio do projeto Segurança com Energia. A ideia é intimidar a ação da criminalidade e reduzir a violência. A área central de Brasília, Ceilândia e Taguatinga, localidades com grande circulação de pessoas, serão as primeiras beneficiadas.

Em Ceilândia, 11 pontos foram mapeados pelo governo. Na Vila Madureira, a luz não chegou a todos os lugares. Trabalhadores caminham apressados e assustados na volta para casa. Apenas um ponto de iluminação existe na rua da Chácara 9, mas, quando a lâmpada queima, os moradores juntam dinheiro e compram outra. A troca é feita por um técnico conhecido na comunidade.

Antônia Alves Pereira, 47 anos, vizinha de Martha Alexandre, sofreu três assaltos no local. O último roubo ocorreu há quatro meses, por volta das 5h30. “Levaram R$ 6 da passagem, o meu celular e um cordão”, contou. Nos outros dois ataques, os ladrões fugiram com o dinheiro do ônibus. “Tem muita gente que vai trabalhar quando ainda está escuro, é um perigo. Lá para dentro da Vila, é pior ainda.” Para Martha, os moradores estão esquecidos. “A CEB (Companhia Energética de Brasília) diz que, por não ser regularizado, não tem como colocar energia.”

Por determinação da Justiça, o GDF está impedido de instalar postes de luz e hidrômetros em áreas irregulares, como a Vila Madureira. Mas, segundo o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, a expectativa é de que seja feito um acordo com o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) para resolver o impasse. “Nós mapeamos os locais onde o índice de criminalidade estava elevado, e a colocação dos postes de iluminação nesses pontos é prioridade”, explicou.

Becos
No Conjunto H da QNP 24, em Ceilândia, a passagem em um beco leva medo às pessoas. Apesar da sujeira, do entulho nas laterais e da pouca iluminação, o espaço é usado por dezenas de moradores da região. Vizinhos disseram ao Correio que o local foi palco de um homicídio há cerca de um ano. O estudante e operador de caixa Marcos Welber Guimarães, 17 anos, sempre atravessa o espaço por volta das 20h. “Depois das 21h, eu nem passo por aqui. Prefiro dar a volta porque é realmente perigoso. Nunca fui assaltado, mas teve uma vez que eu estava falando ao celular e vi pessoas mal-encaradas. Desliguei o telefone e fui embora logo”, contou.

Em Taguatinga, 12 pontos serão iluminados até 2014, com a chegada da Copa do Mundo. Entre eles está o estacionamento do cemitério da cidade e uma área descampada, acesso a um supermercado. O local é utilizado durante a noite por usuários de drogas e para despachos. “Ninguém pode andar sozinho por aqui porque é assaltado, principalmente se for depois das 22h. A polícia passa na pista asfaltada, mas não dá para ver o que ocorre no estacionamento e no descampado, de tão escuros que são”, disse o ajudante de caminhão Inácio Rocha Filho, 50.
Na área central de Brasília, a escuridão também preocupa. Quem circula pelo Parque da Cidade tem medo de alguns acessos. Os que andam a pé entre a W3 Sul e a área de lazer precisam passar por um estacionamento frequentemente utilizado por usuários de crack. “Eles sempre pedem dinheiro ou cigarro. A gente fica com medo, mas procuro não andar sozinho por aqui”, disse o cabeleireiro Luis Daniel Monteiro, 24 anos. “Se tivesse iluminação, seria muito melhor, porque as pessoas saberiam quem está vindo na direção delas e mudariam de rumo ou apressariam o passo, se fosse o caso”, avaliou.

Quem depende de ônibus e quer conhecer pontos turísticos de Brasília, como a Torre de TV e a fonte luminosa, não pode esperar escurecer. Há uma calçada para pedestres que vai da Rodoviária do Plano Piloto até os dois locais, mas, pelas laterais, a área de gramado é escura. Ali, aumenta a sensação de insegurança.

A dona de casa Iracelir Freitas, 37 anos, passou a tarde com os filhos e uma sobrinha para conhecer Brasília. Parte do grupo mora em Vicente Pires e ficou nos arredores da Torre de TV até o anoitecer. Ao enxergarem a equipe do jornal parada na calçada, eles desconfiaram e mudaram de direção. “A gente veio com medo desde quando saímos do Parque da Cidade. Cadê a luz aqui? Simplesmente, não tem e temos que encarar a escuridão. Quando vimos duas pessoas paradas na calçada, nosso coração bateu mais forte de tanto medo”, admitiu Iracelir.

Investimento
A Companhia Energética de Brasília (CEB) ainda faz um levantamento para saber quanto será investido nas cidades com a instalação da iluminação nova. A empresa também não soube informar quantos postes serão colocados. Em alguns locais, os técnicos receberão apoio da Secretaria de Segurança Pública, com carros da Polícia Militar. “Temos notícia de que, quando a CEB chegava para colocar iluminação, os marginais a impediam porque a luz ia atrapalhar o negócio deles no crime. Vamos impedir isso e o resultado final será, com certeza, a redução da criminalidade”, garantiu o secretário Sandro Avelar.

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